Dificuldades de Aprendizagem Específicas
É normal que as "Pessoas" achem que as
dificuldades de aprendizagem específicas não existam, porque em Portugal os
alunos com dificuldades de aprendizagem específicas são incompreendidos e
normalmente ignorados no contexto escolar. Na realidade esta problemática existe
e ocorre universalmente e a sua prevalência em contexto escolar é de 48%. Estas
crianças apresentam um insucesso escolar sem explicação o que as leva, na
maioria dos casos, ao abandono escolar. Por isso, eu vou tentar
explicar o que são dificuldades de aprendizagem específicas para que
consigam identificar nos filhos, sobrinhos ou até vizinhos com esta
necessidade educativa especial.
Só para teres uma noção histórica
da evolução desta temática, o termo dificuldades de aprendizagem específicas
foi apresentado ao público em 1963 numa conferência que foi totalmente
organizada e realizada pelos pais que se sentiam injustiçados pela conduta
fornecida aos seus filhos que apresentavam dificuldades de aprendizagem
específicas. Nesta conferência o pai das dificuldades de aprendizagem
específicas, Samuel Kirk, foi convidado a falar deste termo que ele introduziu
num livro da sua autoria em 1962. Em Portugal surgiu em 1984 pela autoria de
Vítor da Fonseca no livro “Uma Introdução às dificuldades de aprendizagem
específicas”, vinte anos depois do conceito existir.
As dificuldades de aprendizagem
específicas dizem respeito a alunos que aparentemente são normais, mas que
exibem um insucesso na aprendizagem académica que é inexplicável,
surpreendente, confuso, enigmático e específico, experimentam o insucesso
escolar em diferentes áreas académicas, como na leitura, na escrita, no cálculo
ou na aquisição de aptidões sociais, isto é, têm dificuldades de aprendizagem
no domínio cognitivo, sócio emocional e em áreas específicas. São crianças com
dificuldades de aprendizagem que apresentam um conjunto de incapacidades em
diferentes áreas, como por exemplo na percepção visual, auditiva, de linguagem
ou de comunicação. Apresentam muitos problemas na compreensão de números, na
descodificação de letras e palavras em textos, na compreensão de instruções que
lhes são dadas, inabilidade para compreender a cor, problemas nas relações
espaciais e direccionais, falhas na coordenação fina e/ou global, dificuldades
em compreender o início, meio e fim de uma tarefa, entre muitas outras.
Alunos com dificuldades de
aprendizagem específicas apresentam uma discrepância entre quociente da
inteligência e a realização, isto é, na maioria dos casos, são crianças que revelam
um quociente da inteligência dentro da média ou até superior, há uma
discrepância acentuada entre o potencial estimado do aluno e a sua realização
escolar. As dificuldades de aprendizagem específicas das crianças não são consequência
de outras problemáticas como a deficiência mental, perturbação emocional, deficiência
visual ou de audição ou à privação educacional ou cultural, podem existir em
simultâneo mas não têm relação directa, elas não surgem associadas de forma
directa com outras problemáticas, contudo podem existir em simultâneo sendo
estas crianças com multideficiência.
A
causa das dificuldades de aprendizagem específicas é neurológica, é intrínseca
ao indivíduo e acompanha-o durante toda a vida. Há uma disfunção neurológica no
processamento da informação, na forma como recebe, integra e retêm a
informação. Estes défices de processamento de informações causam problemas
severos na leitura, na escrita e na matemática, as áreas estão presentes mas
não funcionam da melhor forma. Pode afirmar-se que a origem das dificuldades de
aprendizagem específicas encontra-se no sistema nervoso central do indivíduo,
podendo um conjunto de factores contribuir para este facto, como a hereditariedade,
factores perinatais - excessos de radiação, o uso de álcool e/ou drogas na
gravidez, incompatibilidade Rh com a mãe - e factores pós-natais - traumatismos
cranianos, a tumores e derrames cerebrais, malnutrição, substâncias tóxicas e a
negligência ou abuso físico. A origem neurológica das dificuldades de
aprendizagem específicas traduz-se num conjunto de problemas quanto ao
processamento da informação e por terem uma origem neurológica são,
consequentemente, intrínsecas ao indivíduo e não desaparecem com a idade.
Em modo de conclusão, convém referir que mais uma vez o nosso país tem negligenciado estas
crianças, pois continuam a não ter direito aos serviços de apoio
especializados, porque as dificuldades de aprendizagem específicas não são
consideradas com facilidade Necessidades Educativas Especiais, tornando-se
muito complicado referenciar estas crianças a receber todo apoio a que têm
direito por lei. Se desde muito cedo referenciássemos estas crianças para
receber todo o apoio dos serviços da Educação Especial iríamos diminuir, assim,
o abandono escolar e aumentar o sucesso escolar destas crianças, mas
principalmente o seu desenvolvimento completo e satisfatório, ao nível cognitivo
e sócio emocional e maximizar as suas capacidades e aprendizagens.
Leitura de apoio:
Correia, L. M.(2008). Dificuldades de aprendizagem específicas. Contributos para uma definição portuguesa. Porto Editora. Porto.
Correia, L. M. (2004). Problematização das dificuldades de aprendizagem específicas nas necessidades educativas especiais. Análise Psicológica, XXII (2), 369 - 376.
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